terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Projecto Troika e Sebastião Salgado no Porto


Vai haver um fim-de-semana de fotografia no Porto.

         Lara Jacinto,  Projecto Troika


Sexta-feira são apresentados o livro e o DVD do  Projecto Troika, que retrata um Portugal marcado pela crise e consequente presença da Troika. São nove olhares que estão aqui representados, que incluem nomes como Adriano Miranda, fotojornalista do Público e autor da ideia, Paulo Pimenta, também do Público, António Pedrosa e Lara Jacinto, ambos da agência 4See.

O projecto chega agora às prateleiras dos portugueses, com apresentação no Edifício Axa (onde já tinha sido exposto este verão), na sexta-feira, dia 12, pelas 21h30. O evento repete-se às 16h30 do dia seguinte, na Fábrica Braço de Prata, em Lisboa.

Já no sábado é exibido o documentário Sal da Terra sobre o fotojornalista Sebastião Salgado. Com realização de Wim Wenders e Juliano Salgado, o próprio filho do fotógrafo, o documentário retrata uma carreira de 40 anos, focada na denúncia de injustiças socias como a exploração laboral e a pobreza existentes nos países subdesenvolvidos.

Sal na Terra estreia-se em Portugal através do festival Post/Doc e pode ser visto às 21h00 no Grande Auditório do Rivoli.





sábado, 6 de dezembro de 2014

Regarding Susan Sontag - o documentário



Produzido em Abril deste ano, Regarding Susan Sontag é um documentário sobre aquela que é, provavelmente, a mulher mais conhecida no que toca à teoria da fotografia. 

Para além da famosa monografia On Photography, Sontag escreveu ainda Regarding the Pain of Others, em que analisa o impacto causado na sociedade pelas imagens de violência divulgadas indiscriminadamente pelos média. A sua ligação à fotografia passa igualmente pela relação amorosa que manteve com a fotógrafa Annie Liebovitz, que a acompanhou até ao fim dos seus dias, em 2004. 

O documentário pretende assim investigar e traçar o perfil desta mulher-génio, que desde muito nova se dedicou à crítica de arte e lutou por causas humanitárias. 

A biografia já passou por vários festivais um pouco por todos os Estados Unidos, Austália, Polónia ou Inglaterra, mas ainda não há data prevista para Portugal. Pode, no entanto, ser visto no canal de televisão americano HBO no próximo dia 8 de Dezembro, às 21 horas (2h00 de dia 9, pela hora portuguesa). Resta-nos então subscrever um serviço de streaming!


sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Epic Light: La Cambre no Carpe Diem


Epic Light é o resultado de um workshop com o tema "Lisboa", em que no prazo de apenas uma semana os artistas tinham de idealizar, fotografar, imprimir e montar a exposição agora patente no Carpe Diem Arte e Pesquisa, em Lisboa.

Tendo como mote uma ideia tão desafiante e abrangente, seria de esperar que lhe fosse dada alguma relevância e destaque por parte do centro cultural, coisa que não se verifica. No edifício, as fotografias foram espalhadas aleatoriamente por entre outras exposições de outros artistas, sem que haja uma referência ao autor ou tema das imagens. É como se estivessem ali por estar, um simples ornamento, negligenciadas pelo próprio organismo organizador do evento.

Muitas das vezes as imagens não têm, sequer, a luz necessária para que sejam vistas, não por falta de meios, visto que algumas chegam a ter holofotes por cima, mas apontados ao tecto, mergulhando as imagens na escuridão - algo que poderia ser desculpado no verão, com a existência de luminosidade natural vinda das grandes janelas do palácio, mas que não deveria acontecer numa exposição que decorre nos meses de Inverno, em que a noite chega mais cedo e o céu está frequentemente carregado de nuvens.

Para conseguir compreender as obras é necessário, então, dirigir-se à recepção do Carpe Diem e pedir um catálogo da mesma - catálogo esse escrito em inglês e francês, mas que ninguém se deu ao trabalho de traduzir para português, num evento que decorreu e está exposto, afinal, em Portugal. Há só um, e é portanto preciso consultá-lo no local e tentar absorver todas as informações antes de subir ao primeiro andar para ver a exposição. Uma situação que se resolveria facilmente pendurando uma folha com a informação junto de cada grupo de fotografias.

A exposição Epic Light, que conta com a participação de alunos da Ar.co, Instituto Politécnico de Tomar, Atelier de Lisboa, e da escola artística La Cambre, em Bruxelas, pode ser vista até ao dia 20 de dezembro.




quinta-feira, 3 de julho de 2014

Finding Vivian Maier : o documentário sobre a Marry Poppins da fotografia


Vivian Maier usava casacos largos e chapéus de feltro dos anos 20. Andava com passadas largas e arrastava as crianças de quem tomava conta pelas zonas más das cidades. Atormentava-os servindo-lhes língua de vaca ou peixe com a cabeça e olhos intactos. No seu quarto acumulava pilhas de jornais de metro e meio que faziam curvar-se o chão, deixando apenas uma passagem entre a porta e a cama. Usava um falso sotaque francês e evitava dizer o seu verdadeiro nome, camuflando-o em todas as variações possíveis, Mayer, Meyer, Mayers, ou inventando uma nova identidade. Quando uma vez foi confrontada sobre isto, a sua resposta foi tão enigmática quanto ela: "Sou uma espécie de espia".

 Até 2009, Vivian Maier não era mais que uma ama excêntrica. Foi quando John Maloof adquiriu num leilão uma caixa cheia dos seus negativos que a sua história começa a reescrever-se. Eram imagens de rua, retratos do quotidiano de uma América dos anos 60 que John Maloof começou a reproduzir em blogues e redes sociais. O feedback positivo fez crescer uma vontade de encontrar esta senhora. Quem era ela? A única página que o Google devolveu à pesquisa foi um obituário: Vivian Maier falecera uns dias antes.

A partir daqui começa o verdadeiro trabalho de pesquisa de Maloof, que adquire parte dos seus antigos pertences, incluindo cerca de 2000 rolos a preto e branco e 700 a cores, todos por revelar, cassetes em que Maier gravava a sua voz e filmes em vários formatos diferentes.

Finding Vivian Maier, condensa assim estes cinco anos de pesquisa, tentando trazer algumas luzes sobre uma história tão fascinante quanto o trabalho fotográfico da autora, um trabalho autodidacta e que a própria Vivian Maier viu apenas uma vez, quando o obturador da máquina abria e fechava para registar a imagem para sempre.

O resultado final é um documentário leve e cheio de humor. Podiam, no entanto, ter sido incluídas mais cenas com a voz  e vídeos de Vivian, e ter sido explicadas algumas pontas soltas por exemplo, como é que os seus negativos foram parar a leilão, ela que não deitava fora um jornal ou recibo velhos? 
 
O documentário não tem prevista uma data de estreia em Portugal, resta pois esperar pelo DVD.



Para saber mais sobre o trabalho de Vivian Maier, podem ser consultados ambos os sites de John Maloof  e Jeff Goldestein, os dois únicos compradores do seu trabalho.


terça-feira, 1 de julho de 2014

Hiroshi Sugimoto - Lost Human Genetic Archive



Hiroshi Sugimoto - Lost Human Genetic Archive


Quando me dirigi ao Palais de Tokyo para ver esta exposição, ia com os olhos cheios com a série Theaters, em que Hiroshi Sugimoto fotografa várias salas de cinema com tempos de exposição iguais à duração dos filmes. Esperava, portanto, ver uma exposição de fotografia, mas afinal o que vi era bem maior do que isso.

Fotografias, muito poucas, e em vez disso uma instalação gigantesca em que se mistura um pouquinho de quase todas as áreas artísticas (literatura, artes plásticas, música...), defendendo-se o autor com a premissa de que, antigamente, religião, ciência e arte coexistiam livremente. 
"I often think of the artists of the Renaissance, a time in which a harmonious combination of religion, science and art existed."
- Hiroshi Sugimoto

Sugimoto imaginou assim algumas dezenas de cenários apocalípticos, cada um deles explicado por uma personagem através de uma carta manuscrita e dos respectivos objectos que levaram ao fim da humanidade. Há o político, o jornalista, o arquitecto, a feminista, o astronauta, etc. cada um deles testemunha e ao mesmo tempo responsável pelo sucedido.

As fotografias são usadas mais como cenário de fundo, e quase nos passam despercebidas o que não é mau. Mostra, pelo contrário que há um todo harmonioso e que todos os objectos convivem bem uns com os outros.

Sendo Lost Human Genetic Archive uma instalação planeada em todos os sentidos, o autor aproveita-se do próprio aspecto do interior do Palais de Tokyo, que faz lembrar umas ruínas, para melhor contextualizar a sua obra. Afinal, em que outro lugar se poderiam encontrar as últimas memórias da humanidade que não numas ruínas? A exposição depende assim da luz natural, e quando à noite esta rareia, são dadas umas lanternas aos visitantes para poderem explorar o fim do mundo. (Tive eu a sorte de, valendo-me do facto de o museu fechar à meia-noite, o ter visitado a seguir ao jantar!)


A exposição é assim uma espécie de dedo acusador que Sugimoto aponta à sociedade actual. Uma sociedade consumista e egoísta, onde os interesses económicos, a procura de poder e o prazer pessoais são postos à frente da própria comunidade. O autor tenta assim abrir-nos os olhos para as hipotéticas consequências de um futuro que pode não estar assim tão longe de existir. A partir daqui, afirma, "caberá ao último homem de escrever a verdadeira história".

A exposição de Hiroshi Sugimoto pode (e deve!) ser visitada até 7 de Setembro no Palais de Tokyo, em Paris.

sábado, 28 de junho de 2014

Robert Mapplethorpe - a exposição no Grand Palais


Apesar de estar aberta ao público desde Março, só recentemente ganhei coragem para ir ver a exposição de Robert Mapplethorpe no Grand Palais. Confesso que o autor não me atraía especialmente mas ver fotografias ao vivo nunca é a mesma coisa que vê-las em livros ou ecrãs de computador, sobretudo quando se trata de imagens em analógico. É quase como vermos fotografias de ilhas paradisíacas ou estarmos de facto nessas ilhas!
 
Sendo uma retrospectiva, e como uma boa retrospectiva deve ser, a exposição conta com obras de todo o espólio Mapplethorpe. Começa por uma série de nus realçados pela perfeita harmonia entre luz e sombra, tão característicos do autor, apaixonado por escultura e que pretendia assim imagens próximas desta outra forma de arte.

" Photography is a very quick way to make sculpture. "
Robert Mapplethorpe


Seguem-se as fotografias de flores, algumas delas a cores, faceta que me surpreendeu tendo em conta que o seu trabalho é mais associado ao preto e branco. Não se pense, no entanto, que estas imagens perdem a força, pelo contrário, as cores são bem trabalhadas, muito intensas, partilhando um lugar ex aequo com as irmãs.

Finalmente os retratos, onde é dado um especial destaque a Patti Smith, o primeiro amor e modelo de Mapplethorpe. Outra surpresa da exposição é a apresentação do filme "Still Moving" realizado pelo fotógrafo e em que Patti declama um monólogo, interagindo num cenário composto por cortinas.

Com um sinal de "proibida a entrada a menores", segue-se uma sala com as obras sado-masoquistas, homens com trajes de couro e chicotes, em poses mais ousadas e eróticas. A escolha para esta sala ficou um pouco aquém do que eu esperava, com cerca de 15 ou vinte fotografias apenas, e nem todas assim tão chocantes que justificasse estarem escondidas.

A exposição termina com um aglomerado das polaróides que marcam o início da sua carreira fotográfica, muitos retratos, nos quais já se sente o seu cuidado visual e a procura dos assuntos que vão marcar a sua obra. Para completar a exposição, o Grand Palais disponibilizou ainda um webdocumentário interessante onde são mostrados os locais que Robert Mapplethorpe frequentava e algumas das pessoas que fizeram parte da sua vida.

 "I am looking for perfection in form. I do that with portraits. I do that with cocks. I do that with flowers. " - Robert Mapplethorpe

    Portrait of a Lady, 1982                                                       Thomas, 1986

Uma das coisas importantes deste género de exposição, e que talvez tenha feito uma diferença na minha maneira de ver o seu trabalho, é que a obra está contextualizada com o percurso do autor. Homossexual, vive numa Nova Iorque em plena libertação sexual, que ele retrata através das suas imagens de partes de corpos masculinos, de homens a dançar ou a beijar-se, mas também através da sua musa Lisa Lyon, boddy builder que aparece em muitas das suas fotografias. Ele procura intensamente mostrar-se como um artista com um corpo de trabalho coeso, mostrando da mesma forma um pénis ou uma flor.
 
Apesar de estarem extremamente bem estruturadas e de darem uma ideia real do seu trabalho, as cerca de 250 imagens apresentadas sabem a pouco e no final fica no ar a espera por uma surpresa, uma fotografia mais inédita e inesperada.

A exposição pode ser visitada até dia 13 de julho no Grand Palais, em Paris. 


quinta-feira, 26 de junho de 2014

Os Cantos Walé de Patrick Willocq


É uma antiga tradição da República Democrática do Congo à qual as comunidades deram continuidade até aos nossos dias. A mulher, ao ter o seu primeiro filho, torna-se uma walé, "mulher em aleitamento", regressando a casa dos pais onde vive num clima de reclusão que pode prolongar-se por alguns anos. A uma walé é proibido  ter intimidade com um homem e fazer qualquer esforço que não seja a construção de cestos de verga e aprender as canções que relatam esse período de reclusão.
As canções retratam as suas relações com os pais e com o marido, por vezes através de comparações com animais. As mulheres interpretam-nas no fim do seu período de isolamento, num espectátulo de três horas que dão para o resto da sua tribo.


A tradição walé será assim uma espécie de hino à maternidade, que tem como função proteger a mãe e o recém-nascido, mas também fazer um controlo da natalidade, de forma a que os nascimentos sejam mais espaçados.


Patrick Willocq, fotógrafo francês crescido no Congo, deu corpo às canções destas mulheres, encenando-as em verdadeiros palcos feitos a partir das mais variadas matérias. O resultado são umas imagens cândidas mas cheias de vida, que nos transportam de novo à nossa infância.Uma maneira original de documentar esta tradição.

O trabalhado, entitulado "I'm a Walé, Respect Me", pode ser visto de 7 de julho a 21 de setembro nos Rencontres d'Arles.

Fontes: 
Revista Polka #26
Patrick Willocq