terça-feira, 1 de julho de 2014

Hiroshi Sugimoto - Lost Human Genetic Archive



Hiroshi Sugimoto - Lost Human Genetic Archive


Quando me dirigi ao Palais de Tokyo para ver esta exposição, ia com os olhos cheios com a série Theaters, em que Hiroshi Sugimoto fotografa várias salas de cinema com tempos de exposição iguais à duração dos filmes. Esperava, portanto, ver uma exposição de fotografia, mas afinal o que vi era bem maior do que isso.

Fotografias, muito poucas, e em vez disso uma instalação gigantesca em que se mistura um pouquinho de quase todas as áreas artísticas (literatura, artes plásticas, música...), defendendo-se o autor com a premissa de que, antigamente, religião, ciência e arte coexistiam livremente. 
"I often think of the artists of the Renaissance, a time in which a harmonious combination of religion, science and art existed."
- Hiroshi Sugimoto

Sugimoto imaginou assim algumas dezenas de cenários apocalípticos, cada um deles explicado por uma personagem através de uma carta manuscrita e dos respectivos objectos que levaram ao fim da humanidade. Há o político, o jornalista, o arquitecto, a feminista, o astronauta, etc. cada um deles testemunha e ao mesmo tempo responsável pelo sucedido.

As fotografias são usadas mais como cenário de fundo, e quase nos passam despercebidas o que não é mau. Mostra, pelo contrário que há um todo harmonioso e que todos os objectos convivem bem uns com os outros.

Sendo Lost Human Genetic Archive uma instalação planeada em todos os sentidos, o autor aproveita-se do próprio aspecto do interior do Palais de Tokyo, que faz lembrar umas ruínas, para melhor contextualizar a sua obra. Afinal, em que outro lugar se poderiam encontrar as últimas memórias da humanidade que não numas ruínas? A exposição depende assim da luz natural, e quando à noite esta rareia, são dadas umas lanternas aos visitantes para poderem explorar o fim do mundo. (Tive eu a sorte de, valendo-me do facto de o museu fechar à meia-noite, o ter visitado a seguir ao jantar!)


A exposição é assim uma espécie de dedo acusador que Sugimoto aponta à sociedade actual. Uma sociedade consumista e egoísta, onde os interesses económicos, a procura de poder e o prazer pessoais são postos à frente da própria comunidade. O autor tenta assim abrir-nos os olhos para as hipotéticas consequências de um futuro que pode não estar assim tão longe de existir. A partir daqui, afirma, "caberá ao último homem de escrever a verdadeira história".

A exposição de Hiroshi Sugimoto pode (e deve!) ser visitada até 7 de Setembro no Palais de Tokyo, em Paris.

Sem comentários:

Enviar um comentário