Vivian Maier usava casacos largos e chapéus de feltro dos anos 20. Andava com passadas largas e arrastava as crianças de quem tomava conta pelas zonas más das cidades. Atormentava-os servindo-lhes língua de vaca ou peixe com a cabeça e olhos intactos. No seu quarto acumulava pilhas de jornais de metro e meio que faziam curvar-se o chão, deixando apenas uma passagem entre a porta e a cama. Usava um falso sotaque francês e evitava dizer o seu verdadeiro nome, camuflando-o em todas as variações possíveis, Mayer, Meyer, Mayers, ou inventando uma nova identidade. Quando uma vez foi confrontada sobre isto, a sua resposta foi tão enigmática quanto ela: "Sou uma espécie de espia".
Até
2009, Vivian Maier não era mais que uma ama excêntrica. Foi quando John
Maloof adquiriu num leilão uma caixa cheia dos seus negativos que a sua
história começa a reescrever-se. Eram imagens de rua, retratos do
quotidiano de uma América dos anos 60 que John Maloof começou a
reproduzir em blogues e redes sociais. O feedback positivo fez crescer
uma vontade de encontrar esta senhora. Quem era ela? A única página que o
Google devolveu à pesquisa foi um obituário: Vivian Maier falecera uns
dias antes.
A partir daqui começa o verdadeiro trabalho
de pesquisa de Maloof, que adquire parte dos seus antigos pertences,
incluindo cerca de 2000 rolos a preto e branco e 700 a cores, todos por
revelar, cassetes em que Maier gravava a sua voz e filmes em vários
formatos diferentes.
Finding Vivian Maier, condensa
assim estes cinco anos de pesquisa, tentando trazer algumas luzes sobre
uma história tão fascinante quanto o trabalho fotográfico da autora, um
trabalho autodidacta e que a própria Vivian Maier viu apenas uma vez,
quando o obturador da máquina abria e fechava para registar a imagem
para sempre.
O resultado final é um documentário leve e
cheio de humor. Podiam, no entanto, ter sido incluídas mais cenas com a
voz e vídeos de Vivian, e ter sido explicadas algumas pontas soltas – por exemplo, como é que os seus negativos foram parar a leilão, ela que não deitava fora um jornal ou recibo velhos?
O documentário não tem prevista uma data de estreia em Portugal, resta pois esperar pelo DVD.
Para saber mais sobre o trabalho de Vivian Maier, podem ser consultados ambos os sites de John Maloof e Jeff Goldestein, os dois únicos compradores do seu trabalho.
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